18.6.09

não vou me adaptar mesmo



Esses dias eu fui num aniversário e uma amiga que eu não via há exatos 20 anos, ou seja, desde os 9 (!) me reconheceu. Ela disse para outra pessoa que eu estou com a mesma cara. Sim, Arnaldo, eu tenho a mesma cara que eu tinha. Só não caibo mais nas mesmas roupas porque casei e é fato que casamento engorda. Ninguém, à primeira vista, acredita que tenho 29 anos. Falando muito sério, cá entre nós, nem eu acredito.

Não que eu não encha mais a casa de alegria. Esse continua sendo o meu melhor papel. Mas agora encho outra casa. E às vezes parece que não vou me adaptar.

Desde que saí da minha casa − ops, da casa dos meus pais − ops, ops, da minha casa, ué! − cada vez que chego lá, sento e fico falando falando falando descontroladamente e olhando pra tudo e tocando em tudo e querendo saber absolutamente tudo porque parece que fico tentando compensar os dias que estive fora. Compensar a mim e a eles, o que é mais engraçado. Na minha cabeça fica todo mundo na mesma ânsia que eu. Na mesma ânsia de me reencontrar. De estarmos sentados na sala contando coisas e rindo muito alto. De nunca chegar esse papo de ser adulto. De nunca sair. De nunca nem ver os anos passando. Nada a ver com o Caio ou com a minha nova casa. Essa conversa é outra. É com a minha família. Pra quem eu sempre volto. Quem eu quero bem não me esquece. Eu não deixo. Eu não largo do pé.

Tenho essa coisa de não querer crescer. Esse toque Peter Pan. Tenho três casas. Moro com meus pais, com meu marido e na Terra do Nunca que é aqui dentro. Talvez por isso eu mantenha a mesma cara e a mesma voz de sempre. Aqui dentro o tempo não existe. Aqui dentro as únicas coisas que ainda me acalmam são o cafuné da minha mãe e a voz do meu pai. Eu nunca vou me adaptar em não estar lá.

Fico aqui falando coisas que ninguém ouve. Ouvindo coisas que ninguém diz. Tudo bem. Nunca terei 29 anos neste blog. Sou e serei sempre uma mulher de sardas sem tempo nem espaço. Quem há de saber por quanto tempo existo? Quem terá notícias de mim se eu não as der? Quem passará por aqui e voltará? Aqui é minha casa também. É onde me digo ao mundo. E na linguagem as barbas não crescem. Elas se adaptam no rosto de quem as quer.

3 comentários:

  1. Ah, Camila... A gente jamais se acostuma, mas um dia, quando fizer assim algo como 20 anos, você procurará as mesmas cenas e coisas no lugar e elas estarão diferentes e aquele tempo de estar em casa lá na outra casa ficará na lembrança de um tempo delicioso.
    Vou na casa de meus pais todo dia (eles se mudaram pra cá) e eu almoço lá, junto com meus filhos. Mas agora, tanto pra mim, quanto pro Szafir, este elo de nossa casa é aquela imagem do passado. A casa mudou e não contou com a gente. Porém continua a ser a casa de meus pais, mas a nossa história e a de nossos filhos foi construída e quando é assim, criamos mais raízes.
    Suas raízes serão criadas, mas algumas ficarão na outra casa, no blog, na mulher atemporal, como eu com meus 25 anos e 19 meses (faço 25 anos e 20 meses neste ano). Espere até os filhos chegarem, eles nos abrem outra dimensão do viver...
    Adorei o texto, me reportei aos meus 29 anos, quando me sentia exatamente assim.

    Beijos!

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  2. pois, o teu texto acertou a saudade que sinto da casa dos meus pais..ops...da minha casa....quando era adolescente em uma Porto Alegre que hoje não existe mais. o teu texto tocou mesmo naquilo que mais sinto saudade, não o ter sido mais jovem em idade, mas sim, a casa dos meus pais...que não mais existe. mas, que insiste em habitar a minha alma. belo, Camila, belo e muito humano e sensível. abraços.

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  3. Não sinto saudade da casa dos meus pais. Me sinto incomodado cada vez que tenho que ir lá. Nunca gostei. Me sento muito livre em ter sapido de lá. Tenho agora um lugar que é meu, que eu escolhi para viver, com a pessoa que escolhi.

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não se nasce mulher, torna-se mulher [simone de beauvoir]