3.4.09

apanhadora no campo de sorrisos



Vou catando teus sorrisos e guardando aqui nesta cesta. Vê? Vê quantos tu já deixou cair nos últimos dias? Montes de sorrisos como há tempos eu não via. Preciso até caminhar com cuidado entre tantos sorrisos espalhados. Dá medo de escorregar. Confesso, dá um pouco de medo dessa chuva, agora que o sol não vem mais de dentro e é alheio. 

E vê como já está fazendo frio...

- Mas tu voltou e agora não tem mais frio. Me abraça aqui. Coisa boa.
- Voltei, mas voltei igual. Não mudei nada. Vai ser tudo igual.
- Não vai, não. Tu não sabe que um momento jamais se repete? Depois de lançado ao mundo o momento é morto, é ar, é parte do que já está, e tudo que vem depois dele vem novo e diferente. Nunca mais vai ser igual.
- Mas eu me sinto igual. Fraca igual. Com medo igual. Tudo sempre do mesmo jeito. Sempre prestes a perder.
- Não somos mais iguais aqui onde estamos. Entenda. Tu tem que entender. E tem que viver. Porque isto também não vai se repetir. Viva. Me abraça e viva. Já erramos essas falas uma vez. É impossível repetir o mesmo erro. É impossível não aprender. É impossível não crescer. Podemos até errar, mas não o que já foi errado. Temos novos erros pela frente. Os do passado, não queremos mais. Temos novos erros para viver e é preciso que tu nos permita vivê-los. Errar é parte nossa. Disso somos feitos. Muito mais do que de acertos. Não temos para onde fugir. Mas errarmos juntos, é nossa escolha. Nossa decisão. Vamos ser nós dois errando nossos próprios erros. Deixa os dos outros pra lá. Deixa os outros pra lá. Se tem uma coisa que é nossa nesse mundo, é esses escorregões debaixo da chuva.
- Errar contigo dói menos. Parece que o erro vai se diluindo...
- Então vem.
- Mas eu tô igual. Mudei só pra mim. Ninguém mais vai ver.
- E daí. Eu quero. É porque conheço teu beijo que quero ele de volta. É porque conheço teu cheiro que quero ele de volta. Quero até teu medo de volta, que eu conheço tão bem. Quero teus montes de sardas que já sou acostumado. Quero assim mesmo, do jeito delas, esse jeito que elas têm de formarem novos desenhos cada vez que olho. Teu rosto nunca é igual mesmo sendo o mesmo, porque tuas sardas dançam sob o meu piscar. Quero tudo igual, mas do jeito que vier agora. O agora também dança. Vê?

Um comentário:

  1. Ah, Camila, mas um dia eu ainda vou escrever assim... Você me inspira, me enriquece. E eu sei que todo este sentimento flui porque o amor a envolve. Lindo, viu? Beijos!

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não se nasce mulher, torna-se mulher [simone de beauvoir]