Eu mesma posso me diagnosticar. Ninguém sabe mais de mim do que eu. Eu me vivo. Me vivo diariamente. Posso dar meu veredicto.
Tenho um tumor na alma. Há tempos. Um maldito câncer que não pára de crescer e se espalhar como planta daninha que não adianta arrancar pela raiz. Tenho um tumor na alma que é como todos os outros tumores: sujo e cruel.
Porque tumor não se pega, não se contamina. Tumor nasce dentro. Brota. Se forma e sobrevive de tudo o que seja lá você é. Tenho um tumor na alma e o quanto ele pesa e o quanto ele me custa carregar é coisa que só eu posso medir.
Meu tumor surgiu quando tomei consciência da morte pela primeira vez. Eu cheguei a achar, no começo, que a morte é que era a doença. Mas a doença era o tumor. Eu achei que a morte, que vinha de fora, que vinha do deus maldito, que vinha do mesmo lugar que eu, é que era a doença. Eu achei que a morte é que era o errado. Mas o errado eclodiu em um estrondo violento que ainda ecoa dentro de mim.
Hoje eu vi um homem morto no meio da estrada. Eu mais o imaginei do que vi, pois estava meio coberto. Tentaram cobrir a vergonha da morte com um pano branco pequeno demais. Mas a morte não se cobre. Mesmo semicoberta todo mundo viu muito bem. E passamos em lento e silencioso desfile diante do fim. Dos pés negros descalços criei a imagem. E ela esteve comigo o dia todo. E eu sei que dormirá comigo no escuro. E o barulho do sangue esparramando lentamente pelo asfalto como que por veias enormes vai nos embalar por uma ou duas noites ainda.
E eu que quase fui covarde suficiente para não ver o homem morto! Eu quase virei o rosto. Eu quase inventei um espirro bem na hora de passar. Eu quase simplesmente virei o rosto.
Porque eu sabia que olhar significaria fazer parte. Olhar me tornaria alguém para ele e isso muda tudo. Eu bem que quis não olhar. Mas o homem morto ficou lá me esperando. E minha covardia acovardou-se. Olhei bem para não esquecer. Meu tumor na alma latejou. Latejou e cresceu mais um pouco. Apertou. Pressionou. Fiquei tonta. Enjoei. Gelei. O coração disparou. São os sintomas da minha doença.
Por favor, não diga nada, nós dois sabemos que não há cura. Meu tumor cresce a cada morte que vivo. E nem é preciso que tenha acontecido.
Tenho um tumor na alma. Há tempos. Um maldito câncer que não pára de crescer e se espalhar como planta daninha que não adianta arrancar pela raiz. Tenho um tumor na alma que é como todos os outros tumores: sujo e cruel.
Porque tumor não se pega, não se contamina. Tumor nasce dentro. Brota. Se forma e sobrevive de tudo o que seja lá você é. Tenho um tumor na alma e o quanto ele pesa e o quanto ele me custa carregar é coisa que só eu posso medir.
Meu tumor surgiu quando tomei consciência da morte pela primeira vez. Eu cheguei a achar, no começo, que a morte é que era a doença. Mas a doença era o tumor. Eu achei que a morte, que vinha de fora, que vinha do deus maldito, que vinha do mesmo lugar que eu, é que era a doença. Eu achei que a morte é que era o errado. Mas o errado eclodiu em um estrondo violento que ainda ecoa dentro de mim.
Hoje eu vi um homem morto no meio da estrada. Eu mais o imaginei do que vi, pois estava meio coberto. Tentaram cobrir a vergonha da morte com um pano branco pequeno demais. Mas a morte não se cobre. Mesmo semicoberta todo mundo viu muito bem. E passamos em lento e silencioso desfile diante do fim. Dos pés negros descalços criei a imagem. E ela esteve comigo o dia todo. E eu sei que dormirá comigo no escuro. E o barulho do sangue esparramando lentamente pelo asfalto como que por veias enormes vai nos embalar por uma ou duas noites ainda.
E eu que quase fui covarde suficiente para não ver o homem morto! Eu quase virei o rosto. Eu quase inventei um espirro bem na hora de passar. Eu quase simplesmente virei o rosto.
Porque eu sabia que olhar significaria fazer parte. Olhar me tornaria alguém para ele e isso muda tudo. Eu bem que quis não olhar. Mas o homem morto ficou lá me esperando. E minha covardia acovardou-se. Olhei bem para não esquecer. Meu tumor na alma latejou. Latejou e cresceu mais um pouco. Apertou. Pressionou. Fiquei tonta. Enjoei. Gelei. O coração disparou. São os sintomas da minha doença.
Por favor, não diga nada, nós dois sabemos que não há cura. Meu tumor cresce a cada morte que vivo. E nem é preciso que tenha acontecido.
perfect.
ResponderExcluir"Tentaram cobrir a vergonha da morte com um pano branco pequeno demais."
é assim que se faz
Caio