Amo o vento que entra pela minha janela de manhã. É real. Abro as cortinas e o sol invade o quarto, e o vento sacoleja levemente o voil. Deito na cama mais um pouco. Todos os dias. É meu ritual deixar o vento me tocar antes de qualquer coisa começar. O ritual não é real, eu sei, real é o vento. Não é real a voz chata na televisão, nem o barulho ás vezes insuportável dos ônibus que não deixam de passar um segundo debaixo da janela. Nem o segundo é real. Real é o vento.
Eu só quero o vento todos os dias, pelo menos um momento de vento, um momento que me faça esquecer minha imagem intocável no espelho e meu sofrimento profundo que toca o que não existe. Eu não sei até onde vai meu sofrimento, mas sei onde começa o vento: ali quando ele esbarra em minha pele e no que mais for real no mundo.
Eu não vejo o mundo daqui onde estou. Teria que me aproximar da janela para vê-lo. Não vou. Não ver o mundo de mentira me faz um pouco real, de manhã. Não olho para a TV também. A tragédia não é real. A voz é real, mas não importa o que ela diz. O que ela diz toca o absurdo, pois é discurso feito do nada, de uma irreal construção humana, pois o real é só o vento, e se não estiver relacionado a ele, não existe, não importa, não há.
É só um momento, o vento, e é tão delicado, mas me mantém em pé.
Olá Camila!
ResponderExcluirEu amo o vento e ele sempre interaje comigo. Busco ouvir o que diz... Lindo texto! Beijos!
brisa... brisa...
ResponderExcluirCamila é feita de brisa!