10.7.07

arquvos outubro 2005

sexta-feira, 28 de outubro de 2005

CANÇÃO DAS DUNAS ESTELARES
Sardas são estrelas.
Teu corpo é a Via Láctea salpicada de sardas.
São dunas de areia alvas as ondulações estelares desse corpo.
Desafios exigindo sabenças as reentrâncias.
Leitosos caminhos cósmicos desafiam amante aventuroso.
Sardas são estrelas, astros, pontos minúsculos de universo para sempre incógnito.
Teu corpo salpicado de sardas, ponteado de alvas ondas estelares, reentrâncias como desafios, convida o venturoso amante.
Colher uma a uma as estrelas, com os lábios apagar sardas, desvendar o sabor lácteo que as reentrâncias exalam.
Saber a sal o sabor da pele, os lábios salpicar de novo e repor uma a uma as sardas todas em seus devidos lugares.
Via Láctea chamuscado de sardas - que são estelares - reproduzindo o trimilenar mistério.
Miríades de sensações: Teu corpo tem estrelas
(Salomão Rovedo)

Eu não conheço o autor desse poema, mas estou aqui encantada com essas palavras...Pra uma menina que sempre teve vergonha das sardas...trauma dos apelidos...insegurança com o seu rosto...crescer e se deparar com essa ode às suas pintinhas é um deleite.
Palmas para os homens que não se vendem ao padrão de beleza atual, que faz justiça à palavra PADRÃO e não permite que ninguém escape à massificação de mechas douradas, silicones, corpos malhados, etc etc etc. Vivemos em uma prisão maluca que nós mesmas criamos, querendo ser algo contrário à Natureza, querendo machucar, violar, estuprar o que temos de mais importante: a individualidade.
Corpos diferentes...pensamentos diferentes...corações diferentes...Todos diferentes dentro da mesma raça, a raça humana; não como raças de animais que são todos tão idênticos, mas uma raça que se desvela em possibilidades, que se desdobra em maravilhas.
Palmas para os homens que amam suas mulheres e as desejam e as querem sempre do jeitinho que são, e dizem isso pra elas, e não cansam de repetir, e não cansam de beijar, abraçar, apertar, e que não ficam olhando para outras em vão, e que não permitem que elas caiam nesse jogo imundo da mídia onde tudo o que devemos ser é o que está ditando a moda da estação.
Palmas para os homens que sabem que modelo nenhuma tem o cheirinho da pele da sua mulher, o beijinho da sua mulher, o jeitinho sexy de chamá-lo da sua mulher, o corpo moldado para encaixar no seu da sua mulher, a inteligência da sua mulher, a sensibilidade da sua mulher, o jeito único de ser mulher da sua mulher, o amor que ama simplesmente por amar da sua mulher.
E puxando brasa pro meu lado, palmas sim, pro meu namorado, que me faz cada dia mais feliz comigo mesma.
terça-feira, 18 de outubro de 2005

QUAL É A DÚVIDA?
- Penso em votar NÃO no referendo porque sei...
que nos desarmar não adiantará nada;
que a violência não parece nenhum pouquinho a fim de acabar ou, ao menos, acalmar;
que os bandidos continuarão entrando em nossas casas;
que as balas perdidas continuarão encontrando crianças por aí;
que as crianças continuarão encontrando armas perdidas por todo lugar (principalmente aquelas perdidas na sala de estar ou no quarto dos pais);
que os maridos continuarão descarregando seus cornos, suas bebedeiras e suas munições nas esposas;
que as pessoas que moram em lugares ermos continuarão a esmo;
que os traficantes continuarão traficando tudo o que for traficável, inclusive e ainda mais armas, e que matar continuará sendo diversão garantida para esses doentes;
que as pessoas ruins continuarão fazendo o mal de qualquer maneira;
que até com um canivete se seqüestra um avião;
que acidentes acontecem, ora bolas;
que a liberdade do outro termina quando começa a minha;
que agora já gastaram mesmo os 250 milhões, então só resta votar;
que não importa o que aconteça eu continuarei desarmada.
- Penso em votar SIM no referendo porque sei... todas as coisas citadas acima e mais uma: que precisamos urgentemente construir uma cultura de PAZ.
Para o nosso futuro, para as nossas crianças, para o nosso mundo.

sexta-feira, 7 de outubro de 2005

Dizem que anjos não existem...
"era uma vez um menino chamado "Tonico" ele tinha 5 anos e algo muito especial sofria de paralisia cerebral e se tratava numa instituição para crianças carentes com deficiências.
"Tonico" era um menino lindo, ativo, feliz adorava o pessoal da instituição, vivia com os seus bracinhos abertos, fazendo festa para todo mundo, apaixonado pela sua vida, do jeitinho que ela era "Tonico" evoluía muito rápido em seu tratamento ele brincava, comia sozinho e se comunicava muito bem com as pessoas a fonodióloga ia até dar alta pra ele, pois "Tonico" já tinha atingido todas as metas possíveis!
foi então, que no final-de-semana, em sua casa, ele teve uma apnéia sofreu convulsões e foi levado para o hospital lá, teve que ir para a cirurgia imediatamente sua mãe segurou sua mãozinha e disse que tudo ficaria bem que não era para ele se preocupar que ela não poderia entrar na sala com ele, mas que pediria para Nossa Senhora acompanhá-lo
diante disso, "Tonico" olhou nos olhos de sua mãezinha e respondeu:
- então eu vou te dizer adeus.
"Tonico" morreu na sala de cirurgia.
Acho que hoje não conseguirei parar de chorar pelo "Tonico" e pela sua mãezinha.
Acho que hoje não conseguirei parar de chorar por mim.
Acho que hoje vou chorar sem parar por todo mundo, por todo mundo que acredita em Deus, por todo mundo que finge acreditar que a morte é natural, por todo mundo que espalha por aí que a justiça divina existe e não falha.
Morrer não é natural.
Morrer é errado e cruel.
Que estranho presente é a vida.

quarta-feira, 5 de outubro de 2005

FOME SEI LÁ DO QUÊ
Escrever é fome. Fome sei lá do quê. Aquela fome que vem do nada e você abre a geladeira e tem tudo menos o que você quer comer. E então você fica pensando naquela torrada de presunto e queijo com guaraná Charrua que você comprava no bar do colégio, naquele bolo de laranja com raspas de casca de laranja que todo domingo a sua vó fazia, naquele fettuccine ao molho de ervas finas acompanhado de iscas de filé mignon que você fez uma vez há muitos anos atrás e nunca mais teve tempo (ou dinheiro, ou coragem, ou simplesmente vontade) de repetir a dose.
Escrever é uma fome que não se resolve comendo qualquer coisa. É uma fome de um desejo inexplicável. Você pode até disfarçar com um sanduíche ou saciar com um banquete, mas fica sempre aquela sensação de "tava bom, mas não era beeeem o que eu queria comer".
Você vê a folha em branco e pensa na barriga vazia. Você digita as primeiras letras e elas até vão preenchendo o nada, mas nem sempre caem bem. Você termina e digere o texto pronto e ele está ótimo, mas ainda assim... Sempre parece faltar um salzinho.
É muito difícil conseguir escrever exatamente o que a sua mente cria; o que o seu coração palpita; o que o seu ser inteiro declama. A torrada feita na sua chapa nunca será igual a da cantina da escola, porque era outro você que ficava na ponta dos pés pra enxergar a atendente. O bolo nunca terá aquela medida exata de raspas de laranja, porque era outro você que espiava dentro do forno para ver se ele estava lá. O molho nunca mais dará aquele mesmo ardidinho na língua, porque era outro você que vestia o avental de cozinheiro.
Então, você olha pra folha branca toda tingida de você e enxerga quase você. Enxerga você escrito. E você escrito parece com alguma coisa que você comeu, mas que não lembra quando, nem onde, nem o nome, nem muito menos quem fez. É uma vaga lembrança. É um gosto, um cheiro, um momento. É um desejo. É um reflexo da sua alma. Você come sabendo que não é exatamente o que você queria nem como você queria. Só que é bom mesmo assim. Escrever é uma fome insatisfeita que gera mais fome. E ainda mais vontade de escrever.
O que eu queria mesmo era tomar um guaraná Charrua. Daqueles de garrafinha de vidro.

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não se nasce mulher, torna-se mulher [simone de beauvoir]