quinta-feira, 17 de novembro de 2005
FEIRA DO LIVRO DE PORTO ALEGRE (E DO CORAÇÃO)
Feira do Livro de Porto Alegre. Hoje, posso dividi-la em dois momentos: antes de 2005 e a partir de 2005. Freqüento a Feira desde pequena. Primeiro, porque meus pais ou a escola me levavam; depois, pela mesma consciência que todo porto-alegrense mais cedo ou mais tarde desenvolve: é preciso visitar a Feira. Porque é cultura, porque é tradição, porque é nossa. Bairrismo, é claro. Mas quem, aqui, se importa?
Além desses, há um motivo essencial que nos impele a conferir a Feira todo santo ano: ela dura 15 dias. Ela dura 15 dias inteiros, não só lá, no Centro, ela dura 15 dias inteiros nos jornais, no rádio e na televisão. Só dá Feira do Livro. Tanto, que você se sente um lunático em não ir, ao menos, espiar. Não dar um pulo na Feira é um verdadeiro sacrilégio. Sem contar o efeito moral avassalador que tanta mídia provoca. De repente, todo mundo lê. Todo mundo mesmo, ninguém escapa. As editoras vendem como nunca livros que estavam há séculos empilhados nas prateleiras por praticamente o mesmo preço e à vista. Ninguém sai de mãos abanando da Feira do Livro. Tem que comprar, nem que seja um saldinho.
Chego, agora, à parte nova para mim. O momento em que adentro na história. Este ano, tive um outro ponto de vista da Feira do Livro: eu trabalhei nela. A Universidade na qual faço estágio montou um estande para divulgação e alguns funcionários foram escalados para passar algumas tardes e noites por lá. Um deles era eu. E então, fui finalmente e devidamente apresentada ao maior evento cultural da minha cidade.
A Feira do Livro é Porto Alegre. A Feira é cor, é raça, é cheiro, é Centro, é livro, é autor, é leitor, é gente nova, gente velha, gente culta, gente sem nada melhor pra fazer, gente, gente, gente pra todos os lados, é chimarrão, é caminhar, é fim de tarde com música, é chopp, é palestra, é autógrafo, é lançamento, é encontro e reencontro, é rico com mendigo, é religião, auto-ajuda e literatura pura, é conhecimento até não caber mais, é criança segurando balão e voando longe em mil aventuras, é adulto louco pra segurar balão, é calorão, é temporal, é todo-mundo-fugindo-da-chuva-fechando-as-bancas-se-escondendo-debaixo-das-marquises, é vontade de bater um papo, de escrever uma história, de ler aquilo tudo, de mergulhar no mar efervescente de emoções que o livro proporciona.
Ainda, após tanto encanto, tive a alegria de presenciar o encerramento da Feira. Foi lindo demais. Aquele pessoal todo da organização se despedindo de banca em banca, cantando "ai ai aiai tá chegando a hora" e distribuindo rosas. Abraços, sorrisos, lágrimas, promessas de um próximo ano. Que virá, com certeza. Já não foram 51?
Bem, não vou fugir da regra. Quero prometer que também voltarei no ano que vem. Voltarei mesmo. E estou decidida a me envolver um pouco mais, trabalhar ainda mais, me apaixonar muito, mas muito mais. Descobri que a Feira do Livro de Porto Alegre é a melhor coisa que acontece em Porto Alegre. Todo ano, durante quinze dias inteiros, graças a Deus.
Até lá!
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