quarta-feira, 24 de janeiro de 2007
TÁ AÍ
Tá aí, eu. Formada. De toga, barrete e diploma. De cabelo arrumado. Maquiada. Sorrisão de orelha a orelha. Que dia bom. Que noite. Que emoções deliciosas. Que deslumbre em ouvir meu nome assim tão alto, assim como se o mundo inteiro tivesse parado para ouvir... Um segundo de silêncio e o meu nome rasgando o nada. Então começou a minha música e eu levantei. Ou eu levantei e então começou a minha música? Não sei, não lembro. Era para o Renato cantar sem amor eu nada seria a a a a. E eu até acho que ele cantou. Eu é que não escutei.
Escolhi Monte Castelo para tocar na minha formatura por alguns motivos que pretendo explicar, pelo menos para quem lê este blog, pois quem estava lá talvez nunca fique sabendo. E algo assim, tão pensado, tão ensaiado, tão desejado... Merece uma explicação.
Em primeiro lugar, Renato Russo é o meu compositor preferido. Explicar minha preferência, ao mesmo tempo em que poderia parecer com a preferência de muita gente, daria uma crônica. Renato Russo é o cara para mim. Perdoem-me todos os que vivem tentando me convencer de que não, ele não é o cara. Ou que ele até é o cara, mas não assim, tão o cara. Para mim, Renato Russo, é único. O único que esteve comigo em todos os momentos cruciais da minha vida. A primeira música de "adulto" que eu escutei foi Faroeste Caboclo. Minha primeira música-tema foi Quase sem Querer. A primeira pessoa que perdi foi o Renato. É verdade. Todas as minhas dores e raivas da adolescência foram vividas por e com ele. Lamento, mas é verdade. Tá para nascer alguém que entenda tanto de mim. Além de tudo, o primeiro herói que superei foi o Renato. Um dia, eu o encarei de pertinho. Entendi um pouco de tudo. Fiquei com pena. Cresci.
Em segundo lugar, Monte Castelo tem a ver com as minhas escolhas. Monte Castelo é um poema de Camões, o que retrata com honra e mérito o meu curso: Letras - Habilitação em Língua Portuguesa e Literaturas em Língua Portuguesa. Literatura, graças a Deus!
Em terceiro lugar, o verso sem amor eu nada seria fala de mim em primeira pessoa. Sem amor eu nada seria mesmo. Sem amor, de nada importaria o curso, a formatura, a profissão. O que é um professor sem amor? O que são alunos sem amor? O que é a educação sem amor? O que é um ser humano sem amor? Nada. Antes de qualquer coisa, o amor. Sempre o amor. Posso largar qualquer coisa por amor e posso me agarrar a tudo por amor. Posso mudar minha vida. Posso começar de novo. Posso conquistar o céu. Posso renascer a cada instante de amor.
E não falo só de amor assim, homem-mulher. Falo do amor por si mesmo. O amor que ama solto por aí. Eu estou aqui por amor, basta conhecer os meus pais. Eu cresci por amor, basta conhecer meus irmãos. Eu existo no amor, basta conhecer todos os que me rodeiam. Eu vivo com amor, basta conhecer meu namorado. (Apaixonada e piegas, essa sou eu. Nunca disse que lia Sabrina quando era novinha?)
Agora dizem que estou formada. Espero que seja verdade. Até hoje não senti nada que chegasse perto da idéia de estar formada. Formada dá a impressão de acabada. Pronta. Era isso. Tá aí.
Vamos ver se esse amor todo que me cerca vai continuar me acompanhando lá fora. Sem amor eu nada seria e posso acrescentar que nada serei. Ainda não me faltou amor. Ainda não me faltou quem olhasse por mim. Rezasse por mim. Cuidasse de mim. Caminhasse comigo por essa estradinha estranha que é a vida. A minha nunca foi tortuosa, mas é insano não saber onde vai dar. Mas não estar sozinha já é suficiente para enfrentar.
Meus beijos todos, então, a todos que vão comigo. Coisa boa ter vocês aqui. Meu desespero sobre o futuro esmorece quando me desespero com vocês. Vamos caminhando e escrevendo e lendo uns aos outros, porque se existe a chance de nos amarmos, não há motivos para não fazê-lo. E este momento que parece todo meu... também é um bocado de vocês.
E ah, em último lugar, escolhi Monte Castelo porque é linda demais.
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