11.7.07

arquivos março 2007

sexta-feira, 9 de março de 2007

AINDA SOBRE MULHERES
Ser mulher é bom todos os dias, exceto nos de menstruação. Contando com o prazo da tpm, então, ser mulher é bom praticamente 15 dias por mês. Ei, não desanime assim, logo de cara! Afinal, uma parcela de 50% não é tão pouco quanto parece. É metade e, conforme a sua fome, a sua sede, a sua necessidade, metade já está mais do que bom.
Quer dizer, estaria mais do que bom SE nós não fôssemos mulheres. E mulheres, como todos sabem, sempre querem mais. Mal feminino? Não. Mal do ser humano, levemente potencializado na mulher, é claro. Mas não sejamos tão hipócritas: é realmente difícil conformar-se com metade quando, em teoria, poderíamos ter tudo. Poderíamos saciar toda a fome. Poderíamos matar toda a sede. Poderíamos suprir todas as necessidades - até as desnecessárias. Desta forma, como contentar-se com metade, se a utópica ilusão de um dia ter 100% de satisfação garantida - all the time - não nos abandona?
(E não é preciso nem vir com o papo de que mulher tem a dádiva de poder dar à luz. Isso fica no meio, delimitando a parte boa da parte ruim. Ser mãe pode ser maravilhoso e pode ser uma desgraça. Sem ilusões, por favor. Todos sabem que existem diversas maneiras de fazer um filho).
Ser mulher é bom e é ruim. Quer ver?
Ser mulher é ruim quando o pneu fura e todos passam buzinando e dizendo gracinhas, mas ninguém pára para ajudar. Ser mulher é ruim quando a prova para líder do Big Brother é de resistência e seus concorrentes são caubóis e administradores sarados. Ser mulher é ruim quando você tem tudo para ser a diretora da repartição, mas o dono da empresa é um machista filho da mãe (culpa da própria?). Ser mulher é ruim quando você pede para a sua filha lavar a louça para você enquanto o filhão está jogando video-game (como se fosse trabalho de menina - e não de menino, como se a louça fosse sua - e não da família inteira). Ser mulher é ruim quando você se flagra repetindo pequenas atitudes machistas que sua mãe copiou da sua vó, as quais fizeram com que você achasse que não tem direito a certas coisas. Ser mulher é ruim quando você estuda, trabalha, preocupa-se com corpo e mente, com saúde e espírito e tudo o que você vê na televisão e nas capas de revistas são bundas e bundas e bundas. Ser mulher é ruim quando você não tem outra coisa para exibir senão uma bunda. Ser mulher é ruim quando você é confundida com as bundas que existem por aí e parece que você também não quer outra coisa para a sua vida. Ser mulher é ruim quando você percebe que outras mulheres é que rebaixam o gênero. Ser mulher é ruim quando um homem passa dos limites, abusa, usa a força, e você só tem força para chorar. Ser mulher é ruim quando um homem humilha você sexualmente, moralmente, humanamente. Ser mulher é ruim quando você se vê mãe e sozinha, sem um pai-marido-amigo para compartilhar. Ser mulher é ruim quando a sua condição de mulher é usada contra você.
Na outra metade, ser mulher é bom porque há na mulher algo a mais. Há na mulher um ventre, útero, ovários, trompas, há na mulher um ciclo. Há na mulher algo que precisamos carregar, defender, proteger. Há na mulher algo a ser cuidado que nos torna as mais masculinas dos homens. Não há mistérios, não há segredos na mulher. Não somos cavernas escuras e profundas a serem desvendadas. O que carregamos é simplesmente o sentido de tudo. E ele é tão óbvio. Ser mulher é bom quando um homem entende isso. Ele não precisa entender porque choramos, porque gritamos, porque somos insatisfeitas, porque somos culpadas, loucas, tristes, felizes, incompreensíveis. Ele só precisa entender o que somos. Ele só precisa abraçar o que somos. Ele só precisa querer o que somos do jeito que somos. Mulheres. Porém, acima de tudo, ser mulher é bom quando nós mulheres conseguimos gostar do que somos. Não é fácil ser mulher. Nem sempre é bom ser mulher. Mas só uma mulher pode entender realmente o que isto significa. Só uma mulher pode descobrir do que uma mulher é capaz, o que ela pode aceitar, em qual guerra ela deve lutar, qual o momento de se render. Se uma mulher não escuta, sente, aceita a si mesma... Quem mais poderia fazê-lo?
Ser mulher é bom, sim, e, se pensarmos com calma - e fora da tpm - talvez não seja em apenas 50% do tempo. Talvez seja 75%. 92%. Talvez seja no tempo exato em que permitimos que o amor-próprio apareça e prevaleça.

quinta-feira, 1 de março de 2007

DO TEMPO UM OÁSIS
Por que tanto calor? Castigo? Só pode ser! Eu e Porto Alegre ardemos no fogo do inferno. Sem exageros. A metáfora é mais do que verdadeira. Acho que alcançamos os 40º. Ora, é claro que alcançamos! Somando os 36º dos termômetros ao asfalto, ao efeito estufa e ao ventilador capenga que insiste em me encarar os 40º passaram batido por aqui. E já me ponho a sonhar com o frio que há pouco tempo torcia para acabar de uma vez.
Por que somos assim? Agora há pouco assisti um documentário sobre um casal perdido na neve e corri ao congelador para pegar umas pedrinhas de gelo. Eles sorviam a neve na boca para beber um pouco de água e eu copiava o gesto, quase sem entender porque na televisão essa dádiva parecia um castigo. Nunca satisfeitos. Nunca felizes. O verão finalmente chegou e não desgrudamos os olhos da previsão do tempo para saber quando é que diabos ele vai terminar.
Por que tanta inconstância? A impressão que dá é que nós mesmos somos culpados pelo tempo passar tão rápido. Quantas vezes eu disse: meu Deus, o ano passou num toque! E passou mesmo. 2006 foi um furacão. Um tsunami. Uma coisa inexplicável. Talvez não tivesse sido assim se eu não passasse o verão esperando pelo inverno e o inverno esperando pelo verão. Se eu não passasse o Natal pensando no feriado de Carnaval. Se eu não enfrentasse o Carnaval fazendo planos para a Páscoa. Se eu não desejasse que o meu aniversário nem existisse. Se eu não ansiasse tanto pelo fim do semestre e pelas férias de julho. Se eu não reclamasse tanto de agosto/setembro/outubro serem tão arrastados. Se eu não passasse novembro dizendo: o Natal já está aí! O ano já acabou! Passou voando!
Por que tanta fome? Eu engoli 2006 e muitas outras coisas desceram com ele estômago abaixo. Minha faculdade acabou e não está parecendo assim tão bom ficar em casa todas as noites fazendo o utópico "o-que-eu-bem-quiser". Troquei de emprego e essa coisa toda de despedida, de recomeço, de bola pra frente não é assim tão bonito como final de novela. Por falar nisso, a novela acaba nesta sexta. Já.
Por que a pressa? As mudanças são boas. Já escrevi sobre isso em algum momento. Há sempre algo muito bom em uma mudança. Mesmo quando ela parece a pior coisa do mundo. Nós só não precisamos ser tão afobados. Eu sei que a vida é curta. Ô, como eu sei. Acho uma injustiça tremenda essa miséria de vida. Parece trailer de filme bom. Ficamos com vontade que o trailer é que seja o filme. Ficamos com desejo que ele estréie de uma vez. Ficamos loucos para que o tempo passe e... Lá vamos nós de novo.
Por que tanto mal-humor, gente? Esse calor até que deixa os dias mais longos. Fazemos tudo arrastado. Molengas. Sem tanta pressa, mesmo porque o corpo não responde muito bem às ordens do cérebro. O problema é essa torcida para que o dia acabe logo. Para chegar logo em casa. Para tomar um banho e dormir. Não deveria ser assim. O calor é ruim, mas muito pior é ver o tempo evaporar. Não dá mais para fazer passar batido. 2007 nós temos que curtir de ponta a ponta. É um ano inteiro da vida da gente. Analisando bem, é muita coisa. Deixa eu puxar o ventilador mais para perto. Assim. Nada mal. Deu até para escrever este texto.

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não se nasce mulher, torna-se mulher [simone de beauvoir]