7.4.12

A metáfora da mala II

Não acabam nunca as malas: é muito eu para desfazer. É muita roupa que não serve mais, porque de uns anos pra cá o meu cheiro mudou. É muita roupa que nunca serviu e carreguei junto. É roupa que serviu demais, e agora pra quem servirá o que tem a forma da minha vida. 

Não acabam nunca as malas. Eu tropeço nelas, elas me entulham, vamos juntas pela estrada afora que desemboca um dia desses às oito horas no fim de mim. 

Não acabam nunca as malas e se por um acaso acabam tenham certeza de que não vou de mãos vazias. Pego esse saco, tua memória, o grande sertão, me faço bagagem, 

eu caibo no espaço reservado.

Um comentário:

Coisa boa saber tua opinião.

não se nasce mulher, torna-se mulher [simone de beauvoir]