14.5.08

o ano dos vinte e sete anos



São meus últimos minutos com vinte e sete anos. Gostaria que o tempo não fosse algo tão angustiante para mim. Minha cabeça se desespera pensando se fiz tudo o que deveria ter feito, se não fiz nada do que não deveria ter feito, se posso encerrar os vinte e sete anos em paz.

Bem, eu tenho certeza de que fiz tudo errado. Nada me parece no lugar, olhando para trás. Mas é um para trás tão próximo que quase posso tocá-lo. É um para trás tão próximo que aparentemente, se eu quisesse, poderia consertá-lo.

Não. Deixa assim. Alguém ainda hoje me disse que errar faz bem.

Este ano de vinte e sete anos foi um ano meio vazio. Eu não aprendi muito. Pelo contrário, me revoltei com o aprender. Achei aprender dolorido demais. Dispensei. Evitei. Fugi. Me neguei a aprender qualquer coisa, quis apenas sentar e chorar. Quis me largar. Quis não entender nenhum porquê. Quis me contentar com o pouco. Quis amargar minha alma tão doce, para ver se a voz ficava mais firme. Para ver se eu crescia. Não ficou. Não cresci.

E tudo o que eu não quis aprender de jeito algum nesse ano de vinte e sete anos, aprendi na semana passada, durante a chuva que nunca acabava.

Eu me molhei tanto.

Mas tanto.

Que eu entendi.

Não dá para esperar pela chuva. Não dá para se preparar para a chuva. Mas não dá para a chuva me pegar de surpresa.

Eu não vou sair de guarda-chuva todos os dias. Eu não vou pegar o casaco mesmo com o sol brilhando lindo lá fora. Eu não vou imaginar o pior a cada manhã. Eu não vou me acostumar a me proteger.

Eu vou sair sem guarda-chuva se não estiver chovendo. Vou caminhar sem pesos. Sem armas pretas de bolinhas brancas. Vou caminhar sabendo que a chuva existe. Mas não vou pensar nela. Não enquanto ela não acontecer.

Nesse ano dos vinte sete anos eu aprendi uma coisa só, e bem no finalzinho:

Eu não tenho que estar preparada para a chuva. Eu tenho que estar preparada para me molhar.


Pronto. O relógio virou para meia-noite. Ou muito me engano, ou já posso escutar os fogos dentro de mim.


3 comentários:

  1. Escuta, voce faz no dia 14? Eu sou do dia 15, entao hoje quem diz sou eu: Sao minhas ultimas horas nos 27 ;-)

    Parabens!

    bjx

    RF

    ResponderExcluir
  2. daqui pra frente tudo será bem diferente. assim esperamos. todos nós. eu você e o planeta terra.

    ResponderExcluir
  3. Que post mais durodoídosofrido, este, Camila. Parabéns pelos 28 que chegaram e eu nem te li antes e por todos os que ainda virão.
    Beijos

    ResponderExcluir

Coisa boa saber tua opinião.

não se nasce mulher, torna-se mulher [simone de beauvoir]