Parece que o veranico de maio acabou. Sinto o ar gelado e há vento. Observo uma e outra árvore que a vista da minha janela alcança e elas balançam. Imagino que está frio lá fora. Imagino que a camada de ar quente se desfez e a camada de ar frio que se mantinha afastada pela pressão agora pode finalmente se mover e tomar seu lugar. O seu lugar no inverno. No junho que já está quase chegando.
Foi algo assim que vi na televisão. Algo sobre o movimento das nuvens, dos ventos e das camadas frias e quentes da atmosfera. Uma não ocupa o lugar da outra. Uma espera a outra sair para poder entrar. Mesmo que esteja tudo fora de hora. Mesmo não sendo assim que era pra ser.
Não tem problema. Já entendi que nada é certo ou errado no mundo. Já entendi que dizer inverno não significa que deva entender frio. Uma coisa pode ser outra. Só não pode ser ao mesmo tempo.
Eu entrei no cinema e quando saí o veranico havia acabado. Eu entrei no cinema e quando saí as camadas de ar haviam se movido. Eu entrei no cinema e quando saí não me importava mais se já era maio, se ainda não era junho, se já havia passado uma ou duas horas, se já havia passado cinco anos, se já havia passado parte de uma vida, de uma vida inteira que eu não sei quanto tempo terá. Eu entrei no cinema e quando saí percebi que algo estava fora do lugar, mas não no lugar errado. Havia um beijo em minha mão. Contrariando todas as previsões, havia um beijo, e era quente, em minha mão.
O tempo é estranho mesmo, mas não há outro lugar para se morar.
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