20.11.07

finding... me

E para que eu sirvo, afinal?

Não, por favor, não responda com gracejos. A questão aqui é dolorosa, solitária e complicada. Eu não sei qual a minha serventia para esse mundo e isso não deveria ser motivo de piadas. Muitos mataram por conta dessa dúvida. Muitos morreram. Muitos enlouqueceram. E houve os que viraram escritores.

Estou procurando emprego. Terminei a faculdade, as possibilidades, a chance de decidir. Agora já tenho diploma e rumo, só não avisto uma estrada para percorrer.

Quando eu era pequena, costumava imaginar-me com 27 anos. Nossa. Eu seria tudo de bom. Eu teria um super emprego. Um super apartamento. Um super carro. Uma super independência. Marido? Não, não estava no projeto. Mesmo. É estranho como eu com 12 anos tinha certeza que não haveria homem da minha vida. Haveria só eu e tudo o que eu estava predestinada a ser. Eu era uma feminista insana e hoje só quero o calorzinho do meu se-deus-quiser-futuro-marido para me aninhar.

Fui uma menina superestimada. Desde pequena. Eu era muito inteligente. Muito querida. Educada. Simpática. Eu sei que eu era. As pessoas me falavam e falam até hoje. Uma colega, um dia, disse: “de todas nós, você é a que tem o futuro mais certo”. Ela nem deve lembrar isso. Ela nem deve lembrar que eu lembro. Não deve nem passar pela cabeça dela o quanto me marcou. É como uma centelha de vida. É como algo que foi escrito nas estrelas, mas que, por um desvio – imperceptível e fatal – se perdeu.


Eu compreendo por que ela disse uma frase tão profunda quando ainda éramos tão jovens. Eu tinha um talento naquela época. Eu escrevia. Eu escrevia muito. E todos gostavam demais do que eu escrevia. Ninguém sabia o que seria quando crescesse e eu já tinha sido naturalmente escolhida. Costumo dizer que aprendi a escrever para ser escritora. Eu não imaginava que alguém aprendesse a escrever por outro motivo. Ser escritora era a resposta na ponta da língua. Era o óbvio. Era do que eu era feita. Escrever era o meu modo de me expressar. De existir. Eu só não sabia que precisava muito mais do que um simples gosto para fazer da escrita uma profissão. Muito mais!

Eu não me preparei para a vida. E a vida aconteceu. De supetão. Eu juro que foi de uma hora para outra que fiz 27 anos. Eu não vi. Eu não me dei conta. Eu não fiz o curso certo. Eu não tive os empregos certos. Eu não aprendi a escrever. Eu não sabia que precisaria fazer tanta coisa. Eu achei que seria tudo simples e natural. Eu achei que precisaria apenas ir existindo.

Eu estou procurando emprego. Mas a idéia principal é me encontrar.

Um comentário:

  1. A única coisa que posso escrever é que suspirei lendo o teu texto desabafo. E concordei. E me identifiquei um pouco.
    Ahhh...

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não se nasce mulher, torna-se mulher [simone de beauvoir]