10.7.07

arquivos junho 2005

terça-feira, 21 de junho de 2005

OLHANDO PRA BAIXO E SÓ PRA BAIXO. MAS É O QUE QUERO FAZER HOJE.
Há um cansaço guardado em mim que volta e meia me toma nos braços e me carrega por aí. Vou com ele sendo levada aonde tivermos que ir, porque não vou quando e aonde quero, eu vou porque tenho que ir.
Me cansa a vida.
Me cansa a morte.
Me cansa a contabilidade dos anos que faltam.
É tão idiota olhar para alguém e saber que falta pouco. É tão idiota olhar para si mesmo e saber que faltam menos 25 anos. É tão idiota ter prazo de validade.
Meus pensamentos sobre a morte nunca morrem. Estão sempre lá. Na hora de dormir todas as outras coisas dentro de mim dormem, menos eles. É o inferno.
Se quando eu morrer, for mesmo para o inferno, juro que vou dizer: "tudo bem".
Eu já conhecia.
Eu já sabia.
Eu já sei viver assim.
Não que minha vida seja um inferno. Pensar nela é que é.
E quem não pensa nisso, e quem jura que acredita no depois, na continuação, no além, quem acredita que a morte é passagem, que é bonita que faz parte, que é NATURAL... É louco. Ou se faz.
Ou ainda, no mínimo, é um perfeito hipócrita.
Mas isso todo mundo sabe.
Nada pode ser melhor do que viver. Por que ficar tentando provar o contrário com religiões e crenças abstratas e sem fundamentos? Me irrita acreditar no que se pensa que se sente e não acreditar na vida. Na carne, no osso, no sangue. No outro.
Amar o próximo requer, em primeiro lugar, que se acredite na existência dele. Cristo não disse nada além disso. Não disse que amar o próximo é o caminho do céu. Só disse que o outro existe. Do jeito dele, mas existe. E ele teve que dizer, porque ninguém acreditava.
Nem nunca acreditaram.
Nem acreditarão.
O céu é aqui mesmo. E o inferno também. Nenhuma novidade.
Mas eu só estou sendo carregada...

sexta-feira, 17 de junho de 2005

O VERÃO E A ROUPA SUJA
"Só o teu verão eterno não se acaba". Para Shakespeare, poesia; para nós, martírio. Hoje é dia 17 de junho e o inverno ainda não deu as caras. E sabe-se lá Deus se dará.
Quando eu era criança gostava de desenhar as quatro estações. Até porque elas existiam. Desenhava a primavera muito florida, o verão bastante ensolarado, o outono todo dourado e o inverno bem, bem gelado, se é que se pode desenhar o gelado... (para você, um chapéu; para mim, uma serpente que engoliu um elefante).
Aceito que essa temperatura amena seja agradável. Mas a umidade quase não dá para suportar. Aceito também, é claro, que para quem não tem uma casa ou a tem sob parcas condições é ótimo que o inverno realmente não chegue. Mas a natureza tem um ciclo e esse ciclo rege o equilíbrio do mundo. E o equilíbrio do mundo rege a vida que há nele.
Porém, vivemos um tempo em que o desequilíbrio coordena o rumo de nossas existências. Constatamos no verão eterno, reafirmamos em Brasília. E o que diabos está acontecendo em Brasília?! O de sempre, ora bolas. Roubalheira, sacanagem, sem-vergonhice, falta de ética. Qual é a surpresa? O caos.
A Natureza em caos, a política em caos, o povo atônito. Cada vez que dá um "quebra-pra-capá" desses, nossas respirações ficam em suspenso. O que vem por aí? Temos medo de uma hecatombe ambiental. Temos pânico de uma hecatombe governamental.
Bem, estamos certos em ter medo. Mas só meio certos. O caos é o limite, é o ápice; a partir do caos ou tudo se ajeita ou se detona de vez. Cinqüenta por cento de chance pra cada lado. O caos sacode o que parece estagnado e torna possível o recomeço.
Esperamos atônitos que o inverno chegue porque não sabemos desenhá-lo sem ser gelado.
Esperamos atônitos que a roupa seja lavada porque sabemos que muita água suja ainda vai escorrer por aí. Mas quem sabe, de tanto lavar, um dia limpa.

terça-feira, 7 de junho de 2005

ENQUANTO O TRABALHO NÃO VEM
Que os meus chefes não fiquem sabendo e - se souberem - que sejam complacentes, mas a verdade é que gosto de escrever aqui, na minha mesa do trabalho. Desde que comecei a trabalhar, escrevi três contos, terminei um livro há séculos engavetado e já comecei outro. Sem contar o blog. O tempo que fiquei em casa não copiei nem receita do Anonymus Gourmet. Eu gosto é de escrever aqui, no meio de todo mundo. No meio dos ruídos e do vai-e-vem. Dos gritos e das risadas. Das conversas e das discussões. Do silêncio deliciosamente quebrado pelo "teclar" nos computadores.
Sozinha em casa, no quarto, em paz absoluta, não sai nada, nem adianta tentar.
Sozinha no parque, em meio à natureza, ao som dos pássaros, nem se baixar um santo escritor.
Sozinha na beira da praia, em frente a o mar, com o vento nos cabelos, no máximo eu choro de emoção.
Para que eu escreva, para que eu tenha uma idéia, para que brotem histórias da minha cabeça feito capim, eu tenho que estar no meio das pessoas e de suas vidas, tenho que sugar seus pensamentos, absorver seus sonhos, captar suas existências. Tenho que escutar suas piadas por piores que sejam, anotar seus dramas por mais mexicanos que soem, conviver com seus jeitos por mais normais que pareçam. Porque apenas parecem. De perto, bem de perto, normal é ser totalmente louco.
Gosto de escrever no trabalho porque é uma forma maravilhosa de escapar. Quando estou em casa, tenho o aconchego; no parque, a introspecção e na praia, o infinito. Quando estou no trabalho, naquele ambiente que as pessoas costumam considerar insípido de tão impessoal e vivendo aquele tempo considerado morto de tão inexpressivo para o que julgamos ser vida, tenho minha mente e minha mente não vê paredes, não entende horários, não produz stress.
Gosto de escrever no trabalho porque me mantém sendo o que sou por direito: minha própria chefe.

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não se nasce mulher, torna-se mulher [simone de beauvoir]