É
porque deus nos criou um ser que sangra, a cada ciclo, todo mês, sempre que não
há cópula culminando em prenhez. É porque deus nos fez esse ser pra dentro,
embutido, rasgado e fundo, nos lançou no mundo, nos precipitou no deserto. É porque nos arrastamos sangrando até a cidade dos homens, e eles que até então só
haviam avistado as hastes balançantes (duras, gospem substância clara e
viva), apavoraram-se com o que há de morto e vermelho em nós, que simplesmente sai, sem esparro, sem força, surtaram diante de
nossos buracos dos quais as outrora poderosas hastes não encontram nunca o fim, entraram em pânico
generalizado diante da possibilidade de os engolirmos inteiros, esses histéricos.
É porque nos escravizaram, nos rotularam para que não se confundissem, as de
buraco mais profundo e as de buraco menos profundo, buraco inominável, e nos deram vassouras para
segurar, e filhos para mamar, e se tornaram também nossos filhos para nos
ocupar, e nos fizeram mães com deveres e culpas, e nos culparam por tudo. É porque
nos fazendo mães do mundo, culpadas também pelo mundo, deram um sentido ao
nosso sangue escorrido, e combinaram entre eles esse sentido num pacto
silencioso e pérfido, que agora eu estou aqui, escolhendo um absorvente fino e
discreto, com odor de camélias, com cobertura suave, noturna e suave, com abas flexíveis, pra
homem nenhum de jeito nenhum descobrir que vejam: ela está menstruada. Ela já pode ser uma
mãe. Peguem-na.
excelente desde o título!
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