7.8.09

é diferente

Que misto de incredulidade e pavor sinto a respeito da gripe A. As notícias me desesperam. Cuido obsessivamente as mãos. Eu tão acostumada a mordiscar a unha quando à toa. Quando tensa. Quando surpresa. Hesito ao encontrar as pessoas. Quase não cumprimento os amigos. Embora todos pareçam tão distantes de qualquer mal.

Ao mesmo tempo, pego ônibus. Vou aos cafés. Não perco aulas. Abraço e beijo sem parar os que amo. Não quero que sofram nada sem mim. Tenho o ingresso para o show do Roberto. E como não teria? E como evitaria viver? É um vírus e está no ar, em tudo, em todos. É como o próprio medo. E quem deixa de sentir.

Eu poderia ficar em casa e antecipar o futuro. Trabalhar pela internet. Comunicar-me pela internet. Eu posso fazê-lo. Posso mandar entregarem o rancho. O mundo, hoje, é feito para nos escondermos dele. Mas ele não deixa nunca de estar lá fora. Quando me escondo, os galhos da árvore batem em minha janela. E eu moro no terceiro andar.

A cada notícia de morte me desespero por um segundo ao pensar em ser a próxima. É como se antecipassem a ordem. Como meu corpo reagirá? Haverá tamiflu para mim? De que realmente as pessoas morrem? São uns espirros, uma febre e acabou? Uma gripe como tantas que tive na vida. Um vírus pairando. A morte no ar.

Eu sei que ela sempre está no ar. Mas é diferente.

2 comentários:

  1. Também tenho meus medos...medo de sair, de tentar ir...de tentar e não conseguir.
    Talvez meu maior medo seja tentar e não conseguir ler seus textos!
    Inspiração dos finais de meus dias.
    Lindo!
    Até mais.

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  2. Olá Camila! Também tenho meus medos. O pior é que meus amigos médicos me confidenciaram que aqui não chegou Tamiflu, nem o novo medicamento ainda. Como somos cidade turística, muita gente passou por aqui , inclusive do sul e temos muitos daqui que têm loja de malhas aí no sul, outros tantos que foram pra Argentina e outros ainda que viajam todos os dias. As cidades da redondeza estão cheias de caso. Tenho medo, mas assim como você, não deixei de ir ver Harry Potter com minha Ana (amo!), não deixei de sair de casa. Meu trabalho em parte é em casa , na net, mas e as aulas? Os jovens? Amanhã decidirão nossas vidas se voltamos ou aguardamos. Aguardamos o que? Enquanto isto, ele mata, mas nem os médicos ,nem nós farmacêuticos estamos com certezas. O diagnóstico laboratorial muda a cada dia, o que valia pra um dia não vale pro outro. estou confusa!
    Beijos e boa sorte.
    Olha, prenda o Caio em casa por uns dois meses. Abasteçam e fiquem hibernando... Acho que vou fazer isto (mas o Szafir e os meus bbs vão fugir pelas janelas! Rsrtsrs)

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não se nasce mulher, torna-se mulher [simone de beauvoir]