A casa ficou assim. Abertas as cortinas. Reviradas as fotos. Desenroladas as toalhas. Trocada a ordem das almofadas sobre o sofá. Desfeita a cama. Terminado o aromatizador. Esquecidas as contas. Rasgada a lista de compras do mês. Desajustada a antena. Desvirado o elefante. Empoeirado o enfeite. Despidos os cabides um por um. Torto o quadro. Caído o pano de prato. Desligada e guardada a calculadora. Deixado o anel.
Não ficou nada. Em nenhum canto ou gaveta, dentro da máquina de lavar ou da geladeira, no armário do banheiro, embaixo da cama, atrás das portas, na caixa de cds ou nos arquivos do computador.
Mas a casa meio vazia era a Júlia. Um livro sim, um livro não, todos os vãos constando na estante. A macela secando no varal. O fio de cabelo escorregando pelo box de vidro. O resto do sabonete de erva-doce melecando a saboneteira. O café destampado perdendo o aroma. As camisas do Faustão perdendo a graça na tv.
Era a Júlia até aquela preguiça de pegar a coberta quando fazia frio no meio da noite.
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