Ser mulher é depilação.
Simples assim. Resumível e presumível assim. Ser mulher é a porra da depilação. E eu não estou desmerecendo a mim ou à minha raça.
É inverno e cada vez que tiro as botas e as calças e as meias eu me deparo com aqueles pêlos. Triste. Eu os arranco e poucos dias depois – para não dizer horas ou minutos ou segundos - eles já estão lá despontando por todos os lados. Não tem fim. É a prova viva e alucinante do que eu sou: mulher. Não pára nunca. Eu arranco e eles voltam. Eu arranco e eles crescem. Eu arranco e eles rasgam a pele e o meu bom senso. Eu preciso arrancar meus pêlos. E por que não arrancaria? Só por que o Caio não arranca? Por que ele pode tê-los todos espalhados pelo corpo naquela velha e boa bagunça masculina? Por que eu mesma não posso suportar meus pêlos e me torturo no puxa-arranca diário, profanando os lugares mais improváveis de mim, com raiva, com pressa, com ânsia de me livrar do que é meu como mais nada pode ser? Por que eu não arrancaria os tais fiozinhos que afrontam meu espelho e toda a cultura social na qual vivo desgraçadamente inserida? Por que teimo em considerar a natureza uma aberração divina?
Porque sou mulher.
E ser mulher é depilação.
Eu tirei minhas sardas a laser e me arrependi, o que faço para voltarem?
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