13.2.08

a metáfora da mala



Desci do ônibus com a minha malinha e saí caminhando no meio de todo aquele movimento do dia começando. Andei bem abraçada com ela e a bolsa e o casaco, me protegendo do frio, do movimento e do dia. Todos os carros do mundo passando e eu pensando o que será que eles pensam de mim e da minha malinha. Será que eles conseguem distinguir uma da outra? Será que eles entendem a diferença? Será que eles entendem que é ela quem está sempre pronta para partir e não eu?

A minha mala está cheia de coisas necessárias e confusas. Quando eu a arrumo, parece leve. Quando desço do ônibus, ela está pesada. Difícil de carregar. É o mesmo volume. São as mesmas coisas necessárias e confusas. Ela continua pronta para partir. Mas o peso é bem diferente.

Eu desarrumo tudo. Sempre. Nada se mantém organizado ao meu redor ou dentro da minha mala. Onde eu e a minha mala chegamos, o caos se instala. Somos pesadas, nós duas. E cheias. E confusas. Estamos sempre prontas para partir.

Mas não queremos, e isso é o que nos faz mala. Isso é o que nos torna confundíveis e incarregáveis. Isso é o que faz da nossa vida um inferno! Ter que viver prontas para partir, sem nem saber para onde, nem quando, nem como. Só sabemos que partiremos. Nós e nossas coisas necessárias e confusas, das quais não conseguimos nos desvencilhar. Por mais que pesem. Por mais que incomodem todo mundo. Por mais que atravanquem os caminhos. É um tal de jogar o necessário lá dentro pra caso a hora chegue de repente, e fica tudo assim confuso, tudo o que quero levar comigo, tudo o que não quero perder nem esquecer, tudo o que não quero nunca, jamais, sob hipótese alguma deixar para trás. A mala sabe, mas eu não entendo. Por isso ando agarrada nela. Por isso abraço-a bem forte contra o vento. Por isso nos confundem pela rua. Eu não posso partir sem levá-la comigo.

Não posso.

Um comentário:

  1. Camila!!

    Sabe o que é melhor neste teu textO? Sabe, além da leveza, além da gostosura com que se lê? O mais delicioso neste teu texto é saber que somos todos um pouco assim: em pouco confusos, mas sempre prontos para partir, mesmo sem saber pra onde. Adorei. Beijos

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não se nasce mulher, torna-se mulher [simone de beauvoir]