29.1.08

monstrinhos meus

Taí um assunto mais do que batido. E eu não lembro se já toquei nesta ferida. Separação é coisa que dói que nem ferida. Mas ferida cura, se você cuidar direitinho.

A vida é permeada por separações. Nem todas são separações amorosas, nem todas envolvem brigas e dores e mágoas, nem todas são para sempre. Mas todas constituem feridas. E aos poucos ficamos cheios delas.

Há um tempo comecei a reparar que separação não dói só quando a vivo pessoalmente ou por intermédio de filmes emocionantes. Separação dói até quando alguém que eu adoro se separa de outro alguém. E não é como assistir na televisão, quando eu sinto um prazer imenso em sofrer. Dói de rasgar a alma e de nada fazer parar. Se alguém que eu amo chora, eu sinto que não vou agüentar.

Ultimamente tenho presenciado o surgimento do espírito maternal em mim. Não que eu queira efetivamente ter filhos, mas ando desconfiada que não dá para lutar contra a bendita natureza. O namorado da minha irmã foi estudar em Londres por algum tempo e o meu coração quase não agüenta de sofrer por ela. Tenho ganas a todo o momento de abraçá-la, de consolá-la, de arrancar dela qualquer pensamento relacionado ao fato. E eu ainda não a vi chorando ou triste ou lamentando. Ela está encarando na boa, feliz por ele, tocando a vida, trabalhando, passeando, propondo programas divertidos e curtindo a saudade de uma forma madura e absolutamente improvável para mim. E eu fico dividida entre o instinto materno de não querer deixá-la sofrer – mesmo sabendo que a dor é mais do que fundamental – e a minha infantilidade latente – que não entende, não entende, não entende...

Eu nunca fiz terapia, embora ache que preciso, mas passo boas horas do meu dia (e principalmente da noite) pensando e repensando minhas neuras.

Já percebi, no meu processo de auto-análise (que neste assunto conta com a colaboração do meu pai), que a questão maior da minha vida é a separação. De todos os tipos e intensidades. Amizades, amores, lugares. Inocências perdidas, sonhos desfeitos, coração partido. Trauma de infância? Provável. Passei por muitas separações em meus 27 anos de história e não aprendi muita coisa com elas, não me fortaleci de forma alguma. Ao contrário, sou hoje uma desesperada. Sofro pelas separações dos outros, pelas minhas, pelas que ainda não sofri, sofro cada vez que me separo do mundo à noite fechando a porta do meu quarto escuro cheio de monstros, sofro compulsiva e histericamente pela maior de todas as separações: a morte.

Pode ser só medo de crescer? Pode. Crescer é, afinal de contas, separar-se.

E como tratar? Como curar? Tem solução para quem cresce cheia de dor, cheia de mágoas por estar crescendo, por ver o tempo se esvaindo, a vida passando, lembranças se apagando uma a uma, para quem olha para frente e vê sempre dois passos do futuro e logo em seguida o abismo inexorável, para quem ama e teme cada um desses novos passos, para quem é consciente da maravilha e do horror que é a vida, para quem despreza as crenças e portanto não pode ser consolada?

Faz pouco eu disse que separação é ferida e ferida é coisa que cura se cuidar direitinho. Bem, isso vale para a minha irmã.

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não se nasce mulher, torna-se mulher [simone de beauvoir]