7.12.07

putz


Putz. Faz um tempo gigantesco que não escrevo. Quando venho conferir as datas percebo como o tempo passa rápido. Mentira. Eu percebo como o tempo passa rápido o tempo todo.

Putz. Estou elétrica agora. Sorte que o computador vai corrigindo o que escrevo, pois as palavras saem ininteligíveis. Aliás, foi bem difícil escrever ininteligíveis. Mas não, não estou bêbada ou alucinada de alguma maneira artificial. Eu apenas trabalhei até bem pouco tempo atrás. Trabalhei até as onze horas da noite. Agora eu trabalho até as onze horas da noite. Todos os dias. Até ontem eu não fazia nada. Hoje trabalho até as onze horas da noite. E fico assim alucinada.

Putz. O capitalismo me alucina. E eu voltei para ele em grande estilo. Shopping, jóias, peruas, desbundes. Acho que as peruas me alucinam. Elas chegam chacoalhando os seus ouros e eu fico hipnotizada, totalmente incrédula daquela realidade e totalmente querendo os seus cartões de crédito na minha comissão. O capitalismo me alucina por ser tão desprezível e me alucina por abrir tão generosamente os seus braços para mim.

Putz. Daqui a pouco vou escrever um livro sobre os dilemas de uma vendedora de jóias com crise moral. E ganharei rios de dinheiro. Não oceanos, como as amantes dos senadores; mas rios, como qualquer pessoa que tem uma idéia fantástica e absolutamente única sobre como vencer na vida pensando, todos os dias, 2359 vezes, olhando para a direção em que o sol nasce, “sim, eu vou vencer na vida”. Ou então mais 1001 maneiras fáceis de atingir a felicidade.

Putz. Muitos putz. Porque agora vendo jóias e não posso falar todos os deliciosos palavrões que eu falava por dia. Também não posso mais usar as minhas sapatilhas sem salto. Nem o cabelo esvoaçante. Nem pegar o bus Viamão e sair voando as tranças para a casa do Caio a qualquer dia e hora, só pra encher o saco dele, só pra deixar ele maluco 24 horas ininterruptas na minha companhia. Eu alucino o Caio. Sério. Eu sou o capitalismo dele. Tipo aquela coisa que a gente queria não precisar tanto, mas simplesmente não tem mais como viver sem, sabem como é? Graças a Deus ele precisa de mim. O Caio é um cara que não lê os manuais. E eu, é claro, estarei sempre lá para dizer que não, ele não comprou uma porcaria de celular que não tem mp3. Basta entrar em ferramentas – downloads – álbum – reproduzir.

Putz. Acabo de descobrir a fórmula da felicidade.

2 comentários:

  1. o meu celular não toca mp3 e nem me dá felicidade. no máximo me permite comer uma pizza sem sair de casa.

    um beijão

    (quanto ao teu último comentário no meu blogue, feriu-me como uma lâmina, uma afiada e necessária lâmina...)

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  2. texto alucinante, ritmado pelo cotidiano e muito instigante. gosto da tua escrita, flui e mexe forte com os pensamentos. (é verdade, o tempo corre, a gente sabe e finge que não percebeu.)parabéns. abraços.

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não se nasce mulher, torna-se mulher [simone de beauvoir]