19.7.07

E de repente o avião caiu. No caso, bateu. Ainda mais surpreendente, ainda mais aterrador. De repente, viramos todos um só. Um único sangue, um único parentesco, um único laço unindo todas as pessoas ao redor da tragédia. Porto Alegre ficou pequena na tragédia. Porto Alegre virou uma vila. De repente, todos nos conhecemos, todos temos alguém ou alguém de alguém dentro do mesmo avião.

Passei a noite escutando as notícias. Acordei e sigo escutando as notícias. Gritei no guichê da TAM exigindo informações. Listas. Nomes. Nomes que não quero ouvir. Sou um cidadão desesperado. Acompanho corpo por corpo que é retirado dos escombros. Sou um bombeiro. Acompanho cada reconhecimento. Sou um funcionário do IML. Olho para os cadáveres. Choro por todos como se fossem meus. E são meus. Viajo até São Paulo junto com os parentes das vítimas. Também eu sou parente das vítimas. Sou humana como as vítimas. Só que eu sigo existindo.

As causas do desastre serão investigadas. Algumas evidências deixaram de serem evidências para serem como as sinalizações de uma pista de pouso. Elas piscam, vibram, reagem. São de todas as cores e de todos os brilhos. Impossível não serem vistas. Elas começaram há dez meses atrás. Elas caíram dos céus junto ao avião da Gol. Elas vieram em desgovernada carreira e trombaram com o prédio da TAM no aeroporto de Congonhas. Que foi há pouco reinaugurado. Que não estava em condições. E onde estão os responsáveis? Bem, as causas ainda serão investigadas. É como se ninguém fizesse idéia. É como se fosse coisa do destino. É como se uma pista escorregadia fosse culpa pura e simplesmente do tempo. De Deus.

Estou até contente que o Governo ainda não tenha se manifestado. Seria cruel demais escutar depoimentos de gente que não sabe de nada. De um Presidente da República que tem chilique em público para mostrar serviço. De um presidente da Anac que aprendeu o que é aviação civil como presidente da Anac. De uma INFRAERO falida de moral. De uma ministra que merecia relaxar e gozar no inferno.

Porto Alegre, a grande Porto Alegre, ficou pequena de repente. Éramos tribos, éramos raças, éramos partidos, éramos religiões, éramos diferentes intelectualidades, éramos uma cidade e tanto movida por uma pluralidade intensamente enriquecedora, mas que, de repente, ficou pequena, bem pequena, do tamanho de um abraço. E nós, povo, ficamos ainda maiores. Como sempre ficamos diante do que escapa do controle de nossa humilde capacidade de compreensão.

Esse texto fala de Porto Alegre, mas Porto Alegre representa o Brasil – com exceção dos responsáveis pelo “acidente”. Estamos à mercê dos “acidentes”.

Este blog manifesta o seu profundo pesar por todos nós.

3 comentários:

  1. É esse o sentimento de todos os gaúchos no momento.. a situação é absurda! Não existe maneira de se imaginar numa situação como a dos passageiros desse vôo. Muito, muito triste. E a nossa Ministra, francamente, vai enfiar aonde os seus comentários?

    obs: mana, detalhe: é Congonhas e não Guarulhos..

    Bjos.

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  2. seguramente má leitura. o texto já foi corrigido. beijo.

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não se nasce mulher, torna-se mulher [simone de beauvoir]